sexta-feira, 14 de maio de 2010

O Primeiro Sesmeiro: Francisco de Paula e Silva

Para regulamentar a política de colonização do Vale do Rio Doce e garantir o estabelecimento dos primeiros povoadores na região, o Governo Imperial passa, a partir de 1824, a distribuir terras através da concessão de “Cartas de Sesmaria”.

Nesse contexto, Francisco de Paula e Silva se fixa às margens do Ribeirão Timóteo, nas terras que lhe foram doadas em 09 de abril de 1832. A rigor, ele não fôra o primeiro sesmeiro da região, mas foi, de fato, o primeiro grande colono do sertão leste do rio Doce e, ao que tudo indica, estabeleceu-se nessa área antes mesmo de ter confirmada a sua Carta de Sesmaria.

Paula e Silva plantava e criava gado, constituindo, ao longo do tempo, a “Fazenda do Alegre”, com três Sesmarias de terras de cultura, que confrontava para o nascente com Rio Doce, para o sul com o Ribeirão do Belém, para o poente com terras de Francisco José Ribeiro da Costa e Manoel Arcanjo de Andrade e para o norte com o Rio Piracicaba. Ao observar essas fronteiras no mapa, vê-se que a “Fazenda do Alegre” ocupava originalmente quase toda a área do município de Timóteo.

O processo de divisão dessa fazenda começou após a morte de Francisco de Paula e Silva, em 1863, quando alguns de seus herdeiros passaram a vender grandes extensões de terra. Com o trabalho dos novos fazendeiros que aí se estabeleceram, vão sendo assentadas, no correr deste século, as bases do povoado de Timóteo.

O Povoado de Timóteo

A partir dos quinhões que foram sendo vendidos pelos herdeiros da antiga “Fazenda Alegre” vai se formando o pequeno povoado de Timóteo. Eram poucas casas e as ruas resumiam-se à “Rua do Canto” ou “Rua da Biquinha”, “Rua do Meio” e “Rua da Taquara” - onde os barracos eram todos de taquara. A ligação com outros lugares era bem precária; não havia ponte e era preciso usar a canoa ao atravessar para o outro lado do ria Piracicaba.

Vivendo basicamente da atividade agrícola de subsistência, seus moradores dependiam do núcleo urbano de Coronel Fabriciano, que funcionava como centro de abastecimento e apoio às atividades rurais da região.

Entre os antigos moradores do povoado, destacam-se, ao lado dos Paula e Silva, as famílias Lino de Sá, Malaquias Ferreira e Martins Quintão, justamente aqueles que primeiro adquiriram as terras da “Fazenda do Alegre”.

Em 1938, o arraial é elevado a distrito de Antônio Dias e, dez anos depois, anexado ao município de Coronel Fabriciano. Desta época, a primeira tentativa de emancipação, efetivada, no entanto, só em 1964.

A Implantação da Acesita

Não há dúvida de que o estabelecimento da ACESITA em terras da antiga “Sesmaria do Alegre”, em 1944, impulsionou o crescimento do povoado.

A área escolhida para a implantação da usina foi a “Fazenda Angelina”, de propriedade de Raimundo Alves de Carvalho, um farmacêutico formado em Ouro Preto, que prestava assistência como médico aos poucos moradores do lugar.

Segundo as lembranças de Dr. Alderico Rodrigues de Paula, que era o engenheiro encarregado de escolher o local para sediar a Usina, não foi fácil vencer a resistência daquele fazendeiro, que só fechou negócio com a ACESITA em abril de 1945.

Os primeiros fazendeiros a venderem suas terras para a instalação da usina, em outubro de 1944, foram Sebastião Malaquias Ferreira e sua Mulher, Heitor Torres de Araújo, Pedro de Paula e Silva, Agripa Moreira Pontes e Alípio José da Silva e esposa.

Não encontrando uma infraestrutura urbana pronta, a empresa teve de arcar, de imediato, com o trabalho de construção das residências dos funcionários e também com as responsabilidades de abastecimento, saneamento básico, transporte, saúde e educação.

Dessa forma, nasceu uma verdadeira “cidade particular”, até que, em 1968, a ACESITA transferiu bens, obras e serviços públicos de sua propriedade à Prefeitura Municipal.

O Vale do Rio Doce

Timóteo surgiu da mesma forma que muitos outros povoados localizados nos sertões do leste mineiro. Sua história remonta ao início do século XIX, quando o Vale do Rio Doce passa a ser alvo de um projeto de colonização implementado pela metrópole portuguesa.

Entretanto, os viajantes que por ali passaram descreveram-na como uma região inóspita, coberta por densas matas insalubres, com incontáveis cachoeiras que dificultavam a navegação e – o mais grave – infestada por índios antropófagos. Sendo assim, eram poucos os que se aventuravam nessa “área proibida”, que por muito tempo permaneceu isolada.

Posteriormente, a imagem da região é reavaliada e, reconhecida a fertilidade de suas terras, desenvolvem-se ali atividades agropastoris. Além disso, a utilização do Rio Doce, como via de comunicação fácil entre a província de Minas Gerais e o litoral, veio a ser uma garantia para a exploração econômica do Vale.

No contexto da II Guerra, quando o país empreende uma política de incentivos à industrialização, o Vale do Rio Doce, pela ambundância de florestas e água, surge como área privilegiada para a implantação de usinas siderúrgicas.

Não há dúvidas de que foi a consolidação do parque siderúrgico do aglomerado do “Vale do Aço” que permitiu ao município de Timóteo conquistar definitivamente uma posição de destaque no cenário da economia mineira.

Barão de Eschwege

Wilhelm Ludwig Von Eschwege nasceu e faleceu na Alemanha e foi aluno de Werner, o sistematizador da Mineralogia. Geólogo e metalurgista de nomeada, foi contratado pelo Governo Português para reorganizar as minas em Portugal, tendo vindo ao Brasil em 1808, com a transferência da Corte, onde ficou até 1821. Aqui no Brasil, como tenente-coronel engenheiro, foi nomeado “Intendente das Minas de Ouro” e “Curador” do gabinete de Mineralogia que o governo fez instalar no Rio de Janeiro.
As suas maiores contribuições foram, entretanto, a construção da fábrica de ferro Patriótica, as inovações técnicas que introduziu nessa fábrica e em outras, e, principalmente, a sua vasta obra escrita de pesquisas geológicas e mineralógicas, resultantes de viagens de exploração científica em Minas Gerais e São Paulo; Eschwege foi o primeiro a assinar a presença de manganês em Minas Gerais. Dessa obra, sobressaem o monumental Pluto Brasiliensi, primeira obra escrita sobre geologia brasileira, e Contribuições para a Ourografia Brasileira.
Todos os livros de Eschwege foram publicados na Europa, após o seu regresso.


( Extraído de “História da Engenharia no Brasil, séculos XVI a XIX”, de Pedro Carlos da Silva Telles).

ACESITA / TIMÓTEO

Confusão de nomes iniciada muito antes da emancipação do município pode estar com os dias contados.
Em alguma praia de alguma cidade litorânea um timotense flerta com uma nativa:
- Onde você mora?
- Em Timóteo. Leste de Minas Gerais.
- Nunca ouvi falar.
- Estranho, minha cidade é bem conhecida. Fica na região do Vale do Aço. E lá tem uma grande indústria produtora de aço, a ACESITA.
- Ah, você mora é em ACESITA?! Por que não falou antes? Claro que conheço a sua cidade. Sempre que viajo para Minas passo lá por perto.
Ligeiramente irritado, o timotense retruca:
- Não. Eu não moro em ACESITA. Moro em Timóteo. ACESITA é uma empresa. Não uma cidade.
- Não entendi nada, diz a garota, um tanto quanto constrangida...

O diálogo acima é fictício. Mas isso não quer dizer que ele não acontece na vida real. Há décadas timotenses são surpreendidos por questionamentos do gênero. Talvez, você mesmo, tenha este tipo de dúvida. Afinal, é no mínimo curioso uma cidade ter identidades tão distintas.

A confusão do nome é antiga. Tem origem no final da década de 40 e início da década de 50, quando foi implantada a ACESITA, hoje ArcelorMittal Inox Brasil. Padre Abdala Jorge, que chegou em 1953 e é um dos moradores mais antigos de Timóteo, conta que a Siderúrgica construiu uma verdadeira cidade no seu entorno para acomodar os milhares de funcionários que chegavam de todas as partes do Brasil e do mundo. Essa cidade era conhecida como cidade da ACESITA e possuía elevados índices de desenvolvimento econômico e social. Até hospital equipado com Raio-X existia em seus limites. Um luxo em tanto para os padrões da época.

Neste período, Timóteo, a dona das terras onde a siderúrgica havia sido implantada, não passava de um pequeno distrito de Coronel Fabriciano. O povo do lugar sobrevivia da agropecuária e da exploração da madeira. Na visão dos “acesitanos”, acostumados aos luxos de “Cidade Desenvolvida”, timotense era sinônimo de atraso, de caipira. Por causa disso, eles se recusavam a adotar o nome. A rixa entre as duas “populações” era constante.

O auge do confronto ocorreu em 1981, época em que foi realizado um plebiscito como tentativa de mudar o nome de Timóteo para ACESITA. O prefeito na época, Geraldo dos Reis Ribeiro, lembra que a rixa era tanta que o povo de ACESITA costumava chamar os timotenses de Sucupira, numa alusão à cidade atrasada da novela “O Bem Amado” que fazia grande sucesso na Rede Globo. No plebiscito venceu ACESITA. Foram no total 23127 votos, sendo 2861 votos favoráveis à troca do nome contra 4976 contrários, 382 nulos e brancos e 4976 abstenções. Só que o governo do Estado, por causa de divergências políticas, segundo o ex-prefeito, se negou a reconhecer o plebiscito.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Lendas de Timóteo V

Assombração da Quaresma
Narradora: Maria Santiago Silveira - 60 anos - Timóteo

Desde 1918 era costume no Arraial de Timóteo os jovens jogarem peteca feita de palha de milho com penas de galinha, pato ou angola às tardinhas nos terreiros das fazendas. As histórias de capeta, assombração eram contadas à noite, ao redor de fogueiras ou dentro das cozinhas ao lado do fogão à lenha. Nos quarentas dias de quaresma poucos moradores saiam durante a noite com medo da mula sem cabeça, Lobisomem, Saci Pererê e Almas Penadas.

Cabloco d'água
Narradora: Dona Rita de Cássia Santos (Vó Rita) - 50 anos - Timóteo

Meu pai sempre falava comigo que no rio morava um cabloco d'água e se a gente quisesse encontrar com ele era só preparar uma pescaria à tarde. Uma vez, ele e seus amigos prepararam uma pescaria numa tarde muito quente. Quando chegaram lá no rio, lançaram os anzóis bem tranquilos. O anzol do meu pai começou a se movimentar e ele pensou que fosse peixe. Quando puxou o anzol para cima ele assustou porque nele veio o cabloco, junto com o peixe. Eu sempre perguntava para ele como era o caboclo e ele falava assim: "Era um senhor muito grande, com o corpo todo coberto de cabelo. Todos os pescadores tomaram um grande susto e, morreram de medo. Mas o cabloco que não gosta de pesca, pois é amigo dos peixes, olhou para eles e, sem uma palavra, sumiu no rio.